sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Nem tudo pode dar certo - o novo Woody Allen



Ao ritmo de um filme por ano, Woody Allen constroi uma obra centrada em relações desencontradas, conflitos existenciais e o poder definidor do acaso. Recentemente, sua visão bem-humorada sobre desejo e desespero rendeu o ótimo e otimista Tudo pode dar certo (2009). Um tom abaixo e mais cético sobre a generosidade da vida, Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (You will meet a tall dark stranger, EUA, 2010) estreia hoje nos cinemas do Recife.

Assim, quando as inconfundíveis letras brancas sobre fundo preto aparecerem na tela embalada pelo jazz ragtime, em vez de trazer boas surpresas, o destino traçado por Allen escarnecerá de seus subordinados.

As vítimas são Alfie (Anthony Hopkins), que após décadas, deixa Helena (Gemma Jones) para casar com uma jovem garota de programa. E a filha do casal, Sally (Naomi Watts), casada com o escritor frustrado Roy (Josh Brolin) e atraída pelo patrão, o marchand bom partido Greg (Antonio Banderas). Por sua vez, Roy se inspira na vizinha violonista Dia (Freida Pinto) enquanto planeja o novo livro que o consagrará no mercado editorial.

Preocupada, Sally recomenda à mãe abandonada consultar uma vidente, que a enche de esperança sobre como será feliz em breve, quando conhecerá o homem de sua vida. Ilusões, acredita Allen, funcionam melhor que psicoterapia. Ou pílulas.

(Diario de Pernambuco, 26/10/2010)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Coluna de Cinema da semana



Cutelo - Esta ficção-científica adapta a ideia de Repo Man (1984), em que Harry Dean Stanton e Emilio Estevez recuperam bens que não foram pagos para financiadoras. No futuro, uma fabricante de órgãos artificiais mantém clientes presos em prestações, com juros. A punição para o calote é a retirada do órgão, mesmo os vitais. Quem os retira são os agentes carniceiros Remy e Jake (Jude Law e Forest Withaker), amigos que se enfrentam quando o primeiro ganha coração novo.

Repo Men (EUA, 2010). De Miguel Sapochnik. 111 minutos. Universal.



Vodca - Antes do fim do regime, os soviéticos infiltraram crianças em território norte-americano. Adultos, espiões como Evelyn Salt (Angelina Jolie, que arregaça as mangas para se manter no primeiro escalão de estrelas) servem ao que sobrou da KGB. Uma vez desmascarada, ela foge e ataca enquanto é orquestrado um golpe definitivo contra os EUA. Jolie vive uma Nikita fashion. Ao mesmo tempo, é o equivalente feminino de McGyver, capaz de construir uma bazuca com tubos de ventilação.

Salt (EUA, 2010). De Phillip Noyce. 101 minutos. Sony.



Bomba - Simular um filme de ação estilo anos 1980 poderia funcionar se Stallone usasse a mão pesada somente contra o ditador do tal país latino-americano, ambientado no Brasil. Desperdício reunir o velho time de musculosos - Lundgren, Rourke, Willis - assim, sob o signo do desastre e pretensão. Satisfaz a curiosidade, e só. Schwarzennegger dá a deixa e não passa mais de três minutos em cena. Chegar ao fim, só para aficcionados pelo gênero ou é muita falta do que fazer.
Os mercenários (The expendables, EUA, 2010). De Sylvester Stallone. 103 minutos. Califórnia.

Eu indico

Eu gosto muito do filme Balzac e a costureirinha chinesa (Balzac et la petite tailleuse chinoise, França, 2002), do diretor Dai Sijie. Além da belíssima fotografia, é impossível não se encantar com as transformações que a literatura provoca na vida de uma pequena aldeia chinesa, durante o regime maoísta. Um filme que fala sobre autoritarismo, liberdade e a descoberta de si mesmo.

Val Lima é fotógrafa

Bastidores

Entre 6 e 8 de dezembro, o Recife será palco do Encontro de TVs Públicas e Culturais da América Latina. Para participar gratuitamente é preciso se inscrever no site da Televisão América Latina (www.tal.tv/etal). O evento terá mais de 100 convidados, entre gestores, produtores independentes e de emissoras de 24 países, que discutirão caminhos para uma programação de qualidade na TV pública. Além dos debates e seminários no Recife Palace, haverá mostra de documentários no Cinema da Fundação.

Meio ambiente - Sábado, durante o Janela Internacional de Cinema do Recife, o concurso de vídeo de 1 minuto Eu Quero Nadar no Capibaribe anunciou os vencedores. Os dois primeiros são de alunos do Instituto Capibaribe. O terceiro, O prato do dia, é de Cleiton Amâncio Félix. Para quem perdeu, eles serão exibidos na TV Pernambuco e nos sites do Janela e do Projeto EQNC.

Festivais - Explosão de festivais no Recife. Mal acabou o Janela Internacional de Cinema, o mesmo Cinema São Luiz recebeu o Ação Mulher, que segue até sábado. Amanhã e sábado tem Cine Chinelo no Pé, no Recife Antigo. E na segunda, também no São Luiz, começa o Festival de Vídeo de Pernambuco.

Estreante - Samuel Santos é o único pernambucano premiado pelo concurso de roteiros de longa-metragem para roteiristas estreantes, promovido pelo MinC. Seu projeto, a ficção, O juazeiro, a pedra e o Sol, foi selecionado entre mais de setecentos e vinte concorrentes no Brasil.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A dor e delícia de morar no Recife



A combinação entre amizade e trabalho tem rendido bons resultados no cinema. Há sete anos, um grupo unido por essas afinidades estreava no formato longa-metragem. O resultado foi Cinema, Aspirinas e urubus, filme que, com o respeito da crítica e resultado comercial positivo, contribuiu para a atual imagem do cinema pernambucano, de autor, em busca de novas possibilidades narrativas e que, mesmo sem fazer concessões, se destaca nas bilheterias. Há cinco semanas, a mesma equipe que assina o longa trabalha na realização de Era uma vez Verônica, novo longa, escrito e dirigido por Marcelo Gomes. As filmagens seguem até o fim de novembro, em diferentes locações do Recife. O filme deve ficar pronto em setembro do ano que vem.

´Sete é um número cabalístico`, brinca Gomes, pouco antes de rodar no set montado no bar Catamarã/Vapor 48, Cais de Santa Rita, no último domingo. O cenário é de festa de formatura, onde a cantora Karina Buhr é a principal atração. Na parede são projetados três curtas de Cao Guimarães, diretor mineiro com quem Gomes deve rodar seu próximo filme, O homem das multidões.

´Trabalhar com os amigos dá uma cara para nosso cinema, eles sabem do que gosto, um cinema bem naturalista. Estou muito feliz com o resultado`. Mas o espírito de continuidade em Verônica vem não só porque a equipe principal é praticamente a mesma mas porque representa o próximo passo de uma busca estética. É a primeira vez que Gomes filma no Recife, cidade que já conta com um volumoso repertório imagético. No entanto, assim como aconteceu com o Sertão de Aspirinas, isso não deve impedir o surgimento do olhar pessoal de Gomes para sua cidade natal.

´A linguagem que busco não é documental ou romanesca mas de crônica, entre a ficção e o documental, não do Marcelo mas de Verônica. Tem o Sol, mas tem a melancolia. É luminoso mas nem tanto. É quente mas ao mesmo tempo sopra o vento`. A origem do projeto, desenvolvido nos últimos quatro anos, vem do desejo do diretor de contar histórias sobre jovens estudantes em sua transição para a vida adulta, profissional, centrada no cotidiano. ´É sobre a dor e delícia de morar no Recife. O cinema dá espaço para essa poesia em torno do amor, desamor e crises existenciais que existem nos filmes de Bergman, mas que aqui se misturam com nossos próprios problemas. Quero mostrar esses dilemas na cidade em que vivo, onde mesmo em crise, é preciso pegar um ônibus lotado debaixo de um Sol de 40 graus`.

Parceria constante

Verônica e Gustavo, ou melhor, Hermila Guedes e João Miguel, vivem o par romântico desta crônica sobre ser jovem no Recife. A parceria não é nova - apenas para citar duas, eles já trabalharam juntos em Aspirinas e O céu de Suely. "A gente tem tanta intimidade em cena que dá medo. Às vezes nem parece que a gente está atuando", contou Hermila, no intervalo da filmagem do último domingo.

A atriz descreve Verônica como uma pessoa em formação, que precisa começar a existir para o mundo. "Isso é duro, muitas vezes numa sociedade que reprime tanto. Talvez a crise dela seja ter que ser tantas Verônicas e não estar preparada para ser nenhuma". Com a personagem, uma psiquiatra recém-formada atenta aos pacientes, amigos e em busca de si, Hermila aprendeu a olhar de outra forma para as pessoas e para a cidade. "Ela tem consciência do que está vivendo e é uma grande observadora, por isso o conflito". Comum enter as duas está o gosto pela balada, por se jogar na noite. "Eu gosto de misturar, pra mim, atriz e personagem é uma coisa só".

João Miguel explica o engenheiro naval Gustavo como alguém que se aproxima de Verônica, como quem quer curtir, sem que isso interfira muito em sua vida. "Ele é mais uma estrela na constelação em torno dela, uma testemunha secreta desse subjetivo feminino. Aparentemente, ele não tem nada a ver e acaba se apaixonando".

Verônica é a quarta produção pernambucana de que o ator baiano participa. Para ele, a nova parceria com Marcelo Gomes é essencial. "Não é um convite qualquer, é a confirmação de um cinema a que pertenço, é de onde eu vim. Ele faz filmes em que a linguagem é tão importante quanto estar inserido no mercado. Essa busca e paixão permitem correr riscos e se jogar no abismo".

Produção cresce em Pernambuco

Há 12 no mercado, a Rec Produtores é reconhecida como selo de qualidade no ramo do audiovisual. Após Verônica, suas próximas empreitadas serão Tiradentes, coprodução com o espanhol José Maria Morales, produtor de La teta assustada sobre os 200 anos da libertação da américa espanhola, Tatuagem, novo longa de Hilton Lacerda e a coprodução de Boa sorte meu amor, de Daniel Aragão.

À frente da produtora, João Vieira Jr. diz que considera 2010 uma ano atípico, pois desde fevereiro vários longas foram produzidos na cidade. "O cenário está melhor, em boa parte pelo aperfeiçoamento do edital estadual e pela visibilidade de nosso cinema. Contar com 20% do orçamento com dinheiro do estado fortalece o diálogo com novos investidores. Isso é importantíssimo, mas ainda não realizei meu sonho de produtor, que é fazer três ou quatro filmes com novos diretores que estourem tanto de público que não precisem passar por editais de fomento".

A sintonia com Marcelo Gomes é entendida por João como um desdobramento da amizade que já tinha com o diretor. ´Ele estudou muito para ser diretor, passou por todas as funções e observava a minha atuação ainda no tempo em que trabalhava com publicidade na Center. Essa experiência me ajudou a gerenciar melhor as produções, pois precisava satisfazer os clientes`.

A produção de Era uma vez Verônica movimenta uma equipe de 50 pessoas e um orçamento de R$ 3 milhões, dois terços captados. A sequência mais complexa foi filmada numa ladeira de Olinda, onde 300 figurantes simularam um dia de Carnaval. Na noite de domingo, 200 pessoas foram chamadas para compor a festa universitária. As próximas semanas são voltadas para cenas noturnas, em bares como o Central e da Rua Tomazina (Recife Antigo).

Por dentro do set

Elenco: Hermila Guedes, João Miguel, Renata Roberta, Inaê Veríssimo, Anthero Montenegro

Roteiro e direção: Marcelo Gomes

Direção de fotografia: Mauro Pinheiro Jr.

Direção de arte: Marcos Pedroso

Figurino: Beto Normal

Montagem: Karen Harley

Som direto: Evandro Lima

Produção executiva: Nara Aragão

Direção de produção: Dedete Parente Costa e Livia de Melo

Produção: REC Produtores e Dezenove Som e Imagem

Orçamento: R$ 3 milhões

Patrocinadores: BNDES, Petrobras, Neoenergia, Fundarpe

Distribuidor: Imovision

(Diario de Pernambuco, 23/11/2010)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tão longe da capital



O longa documentário Depois de ontem, antes de amanhã (Brasil, 2009), que tem sessão única hoje, às 19h30 no Cinema da Fundação, traz uma visão sobre as pequenas cidades brasileiras a partir de uma realidade bem próxima para os pernambucanos. No entanto, o filme é dirigido por uma realizadora paulista que nunca havia pisado no estado.

Ela apresenta três personagens principais, os moradores Daniel, Josenilda e Lucivânia. As duas últimas estarão com a diretora na sessão de hoje, para conversa com o público. Daniel, que no filme mostra desenvoltura como agricultor e videasta, não pode estar na sessão pois mudou de ramo e agora dirige um caminhão Brasil afora.

Em 2008, a cineasta Christine Liu veio a Araçoiaba a convite da Unilever, que mantém um projeto que busca melhorar a saúde, educação e desenvolvimento econômico da cidade. Apesar de estar próxima à capital (cerca de 50km), a cidade de 18 mil habitantes não faz parte da Região Metropolitana e é detentora de um dos IDH mais baixos do estado. ´Busquei personagens que mostrem um pouco dessa vida e a possibilidade de direcionar seu destino e fazer algo melhor para si e sua comunidade`.

A filmagem foi feita em três semanas na cidade. Na equipe está a renomada Heloísa Passos (KFZ-1348, Viajo porque preciso, volto porque te amo) como diretora de fotografia. ´Antes de tudo quis fazer um documentário pra cinema. Buscamos trazer esse olhar quase subjetivo. Quis a câmera discreta, espreitando as conversas, como se o espectador fosse mais um na roda`.

(Diario de Pernambuco, 22/11/2010)

domingo, 21 de novembro de 2010

Filmes premiados no 3º Janela Internacional de Cinema do Recife

Prêmios do júri oficial para curtas nacionais

Melhor Filme: PERMANÊNCIAS, de Ricardo Alves Júnior (MG)
A imagem que permaneceu

Melhor Imagem: FANTASMAS, de André Novais Oliveira (MG), com fotografia de Gabriel Martins
Todos temos uma Camila

Melhor Som: AS CORUJAS, de Fred Benevides (CE)
O Horror, O Horror!

Melhor Montagem: ENSAIO DE CINEMA, de Allan Ribeiro (RJ), com montagem de Allan Ribeiro e Douglas Soares
Uma Dança: Montagem em tempo real

Menções honrosas:

O SARCÓFAGO, de Daniel Lisboa (BA)
O filme que o Fygura teria feito

ENSOLARADO, de Ricardo Targino (MG)
A dor e a beleza da saudade anunciada

AMIGA AMERICANA, de Ivo Lopes e Ricardo Pretti (CE)
Por que não?

BAILÃO, de Marcelo Caetano (SP)
Uma declaração de amor, finalmente pública

Prêmios do júri oficial para curtas internacionais

Melhor Filme: DANS NOS VEINES, de Guillaume Senez (França)
Pela força de uma história que nos convida a testemunhar uma profunda
experiência humana.

Melhor Imagem e Melhor Montagem: LONG LIVE THE NEM FLASH, de Nicolas
Provost (Bélgica) com fotografia de Aldo Piscina e montagem de Julie Brenta
Vida longa à era digital.

Melhor Som: SHOUM, de Katarina Zdjelar (Sérvia)
Pro mais simples, bem-humorado, criativo e eficaz uso de som.

Premiação ABD/APECI

Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas, seção
Pernambuco/Associação Pernambucana de Cineastas

O olhar do realizador

Melhor curta nacional
FANTASMAS, de André Novais de Oliveira (MG)

Melhor curta internacional
SHOUM, de Katarina Zdjelar (Sérvia)

Prêmio Especial ABD na Janela

JANELA MOLHADA, de Marcos Henrique Lopes (PE)

Prêmio Fepec
Federação Pernambucana de Cineclubes

Filme Para Reflexão à "As Aventuras de Paulo Bruscky", de Gabriel
Mascaro (PE).

Prêmio Janela Crítica

Long Live the New Flesh, de Nicolas Provost (Bélgica)

Fantasmas, de André Novais Oliveira (MG)

Fôlego do cinema de Pernambuco



A presença de quatro produções pernambucanas inéditas no 43º Festival de Brasília é mais uma prova do bom momento do cinema feito no estado. O evento, que começa na próxima terça-feira e segue até o fim de novembro, costuma aplaudir filmes que refletem o atual momento político e apostam na criatividade narrativa.

Foi assim com os longas Baile perfumado, Amarelo manga, Baixio das bestas e curta-metragens de Camilo Cavalcante e Kleber Mendonça Filho, todos premiados em edições anteriores do festival.

De forma que Vigias, de Marcelo Lordello, Café Aurora, de Pablo Pólo, Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros e My way, de Camilo Cavalcante, os novos selecionados para as mostras competitivas deste ano, já entram no páreo com esse background a favor.

Para saber um pouco sobre cada um, o Diario conversou com os realizadores. Confira a seguir.


Zelando pelo sono dos outros - Selecionado pelo Concurso de Roteiros Rucker Vieira, Vigias já foi visto no Recife no formato curta-metragem, em sessão especial promovida pela Fundação Joaquim Nabuco.

O novo corte também converte o documentário para o suporte 35mm, o que deve dar a ele novas cores e luzes. ´A narrativa agora está completa`, diz Marcelo Lordello, um dos realizadores da Trincheira Filmes. ´Ela precisava de mais espaço e tempo para dar conta de todos os personagens`.

Tudo foi feito com R$ 27 mil, impostos descontados. Para viabilizar o transfer para a película, o cineasta Daniel Aragão viajou para Los Angeles, onde o processo é 80% mais barato do que no Brasil.

Como o título sugere, os personagens do filme de Lordello são aqueles que ficam atentos nas portas dos condomínios, zelando pelo sono dos moradores. Seu recorte é mais sensorial do que geográfico.

Durante várias noites do Recife, uma equipe reduzida de sete pessoas visitou profissionais da vigilância da cidade.

´Meia hora de conversa bastava para entender o tipo de abertura e começar a filmar. Não queria um filme de pesquisa de personagem, de vida anterior. Em vez de obedecer algum tipo de dispositivo, me permiti sentir o tempo e observar a relação que se estabelece na hora`, explica Lordello.

Melancholic frevo - Veterano em Brasília, Camilo Cavalcante não adianta muito sobre My way, seu novo curta de ficção.

´É uma pequena parábola sobre a solidão humana. E nada melhor do que o Galo da Madrugada, esse bloco enorme, para encontrar mais um sofrendo na multidão`. Na base de duas câmeras (ele e Camilo Soares), um ator (Silvio Pinto, com quem já trabalhou em O presidente dos Estados Unidos), e muito suor, Cavalcante considera que fez um vídeo experimental, de resultado "bem emocionante".

´Vai de Vassourinhas a My way, de Frank Sinatra. Se disser mais, perde a graça`, diz o realizador, que convida o público recifense a comparecer no Festival de Vídeo de Pernambuco, que também selecionou o curta.

Vivendo o momento - ´O filme é uma ode ao detalhe`, diz o diretor Pablo Pólo, sobre Café Aurora, seu primeiro projeto 100% autoral. Ele está ansioso para sentir o retorno do público de Brasília. ´É meu momento de realização artística, pois estreei como ator muito novo, depois me afastei e sempre havia uma lacuna para me expressar artisticamente`.

O projeto surgiu anos atrás, a partir da simples ideia de um personagem que se apaixona por outro. Ele é um barista que encara o desafio de se comunicar com ela, uma artista plástica que faz uma escultura e dá um tempo para tomar um café. ´Hoje vivemos conectados, escrevemos no computador enquanto ouvimos música. E no filme é o contrário, eles se desconectam do mundo, se dedicam a curtir o momento. A capacidade de viver as situações de forma profunda é o que une os personagens`.

Tem gente no Canavial - Acercadacana é resultado de um processo de aproximação com a agricultora Maria Francisca, que há 40 anos mora em terreno rodeado por plantações de cana na Zona da Mata Norte e está ameaçada de perder a terra para um grupo usineiro.

O engajamento político dos realizadores evidencia a desproporção da disputa pela terra. ´Queremos discutir os lugares de poder e as possibilidades do cinema documentário interagir com isso`, diz o diretor Felipe Calheiros. ´Ao mesmo tempo, há cuidados que podem interessar do ponto de vista da construção da narrativa e montagem`.

A justiça concedeu o direito de usucapião a Dona Francisca, mas a usina recorreu e o caso ainda transcorre nos tribunais. Ela estará em Brasília com os realizadores e juntos divulgarão uma campanha pelo limite da propriedade da terra, uma proposta de emenda constitucional pela reforma agrária.

Brasília costuma receber bem filmes politicamente posicionados. Nesse sentido, Acercadacana tem tudo para se dar bem no festival. ´Tudo faz crer que a discussão vai ser boa. Estamos curiosos para essa sessão`.

Desde o início, o projeto foi bancado pela própria equipe. Para fazer o transfer para a película 35mm, houve aporte de R$ 40 mil da Fundarpe. Após a visibilidade obtida em Brasília, a ideia é começar a produção de um longa sobre o contexto da cultura do etanol.

(Diario de Pernambuco, 21/11/2010)

Jarbas vence o BH Humor



Uma caricatura inédita de Jarbas Domingos, da equipe de arte do Diario, foi premiada com o primeiro lugar do Salão Internacional de Humor Gráfico de Belo Horizonte (MG).

Este é o terceiro prêmio conquistado pelo artista este ano e o primeiro de sua carreira como caricaturista. A inovação em representar o personagem, o cantor Gilberto Gil, foi decisiva para convencer a comissão julgadora, formada por Chico Marinho, Marcelo Lélis, Lor, Márcio Leite e o mexicano Angel Boligàn.

Arte de Jarbas Mestre na arte da aquarela, Lélis diz por telefone que foi uma escolha difícil, pois o nível dos trabalhos estava alto. ´Jarbas ganhou com mérito, talvez apontando novos caminhos para a caricatura. Me chamou a atenção a forma como ele resolveu o desenho, com uma composição diferente, baseada em recortes. E ficou parecido demais com o Gil`.

Jarbas fez um desenho 100% digital, dentro do conceito que remete a recortes e colagens em papel. ´É uma técnica pouco vista. É importante premiar trabalhos assim, queampliam a diversidade de estilos. Todos anos temos vários salões e normalmente os vencedores são estudados e ganham seguidores`, afirma Lélis.

Esta é a terceira caricatura que Jarbas faz sobre o compositor baiano. ´Foi um caminho longo até chegar ao simples. O importante na caricatura é distorcer e ao mesmo tempo deixar a pessoa parecida para que seja percebida rapidamente`. Gilberto Gil será o primeiro de uma série de desenhos que passarão por Michael Jackson, Susan Boyle e Lady Gaga, a ser publicada nas páginas do Diario.

Organizada pela associação Cartuminas e a Prefeitura de Belo Horizonte, o BH Humor está em sua segunda edição e recebeu mais de 1.400 trabalhos de 30 países. Destes, cem foram selecionados para a exposição e seis foram premiados com troféus e o total de R$ 30 mil.

(Diario de Pernambuco, 19/11/2010)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Coluna de Cinema da semana

Lançamentos



Kurosawa - Volume especial para os admiradores de Akira Kurosawa, as memórias da sua principal assistente, hoje com 83 anos, são um registro íntimo do mestre e seu ofício. Há casos curiosos, como o do incêndio que quase inviabilizou a existência de Rashomon (1950), obra prima que após ser premiada em Veneza projetou o artista para o mundo. O título do livro remete ao hábito de Kurossawa de aguardar a formação de nuvens e, portanto, a luz ideal para rodar as cenas.
À ESPERA DO TEMPO - FILMANDO COM KUROSAWA. DE TERUYO NOGAMI. 320 PÁGINAS. COSACNAIFY.



Blockbusters - O sucesso de Tropa de Elite 2 motivou a nova edição da tradicional revista de cinema brasileiro. Com o tema Arrasa-quarteirão - os filmes brasileiros que todo mundo viu, a publicação traz matérias sobre os filmes-fenômeno de cada época, dos filmes silenciosos (por Luciana Corrêa de Araújo) ao século 21. Entrevistas com especialistas em atrair público como Daniel Filho (sem papas na língua) e um perfil de Roberto Farias são boas atrações. Também disponível em versão online.
FILME CULTURA Nº 52. 98 PÁGINAS. MINC.



Nos cinemas - O novo paradigma de distribuição estabelecido por Tropa 2 não invalida este estudo, que aborda a estratégia de distribuição dos filmes nacionais. Pelo contrário, torna ainda mais oportuno entender suas engrenagens a partir do caso de cinco filmes lançados em 2005. Dois filhos de Francisco, de Breno Silveira; Cabra-cega, de Toni Venturi; Casa de areia, de Andrucha Waddington; Cidade baixa, de Sérgio Machado; e Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes.
O FILME NAS TELAS: A DISTRIBUIÇÃO DO CINEMA NACIONAL. DE HADIJA CHALUPE DA SILVA. 176 PÁGINAS. TERCEIRO NOME.

Bastidores

Popular - Desde que estreou, o curta Do morro?, de Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, acumula passagem por 19 festivais, três premiações e uma menção honrosa. Nada mal, considerando que este é o primeiro trabalho dos realizadores. A conquista mais recente é no mesmo Recife cantado por João do Morro. O documentário foi selecionado pelo 12º Festival de Vídeo de Pernambuco, que começa dia 29, no Cine São Luiz.

Novo - Outro curta que poderá ser visto no Festival de Vídeo é O homem dela, de Luiz Joaquim. O filme também está selecionado para o 12º Festival de Curtas de Belo Horizonte, de 30 de novembro a 7 de dezembro. Antes, ele será exibido como parte da programação do Cineclube Dissenso (Cinema da Fundação), neste sábado, 14h.

Grátis - O Festival de Vídeo, aliás, oferece duas oficinas gratuitas: ´Realizando em 1 minuto`, com a jornalista Alice Gouveia, e ´O Estilo na Obra Cinematográfica`, com Ana Catarina Galvão. Inscrições até amanhã, via cinemafundarpe@gmail.com.

Festival - O Cine PE abriu inscrições para sua 15ª edição.

Por um bocado de dólares - Sessões lotadas e com aplausos para os dois primeiros filmes da Trilogia do dólar de Sérgio Leone no Janela Internacional já entraram para a história cinéfila da cidade. O terceiro, Por um punhado de dólares, será hoje (quinta), às 18h30, no São Luiz. Para quem perdeu Três homens em conflito, no domingo tem reprise.

Eu indico

Eu indico A face oculta (One-Eyed Jacks, EUA, 1961), o único filme em que Marlon Brando acumulou atuação e direção. Desde sempre me pegou, na veia, sem que eu saiba bem as razões. Mas arrisco: fotografia, a inexperiência de Brando na direção (estreias podem dar nessas brilhantes excentricidades), personagens e ritmo estranhos ao gênero western... e Brando ter tido coragem de substituir Kubrick.

Cristiano Santiago Ramos é jornalista

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Janela de cinema // O cinema como cachaça



O Cachaça Cinema Clube está de volta ao Recife para uma sessão programada para o Janela Internacional de Cinema. O reencontro do cineclube carioca com o público de Pernambuco será hoje, às 21h, no Cinema da Fundação. Logo após, às 22h30, haverá encontro de realizadores no Café Castigliani. Ao todo, são seis documentários de curta duração, que têm em comum a força de seus personagens: José Mojica Marins, Farnese de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, a banda Os Mutantes, Pelé e Maurice Legeard.

Para quem não conhece o último, Legeard é um agitador cultural francês que viveu em Santos (SP) e desenvolveu atividades cinéfilas com paixão. O guru e os guris (1973), de Jairo Ferreira, trata do tema. ´Queríamos fazer algo à altura do Janela e pensamos nessa seleção, que traz personalidades intensas e de diferentes artes`, diz Débora Butruce, do Cachaça. ´É também um retrato de filmes dos anos 1970`.

Os demais filmes são Mutantes (RJ), de Antônio Carlos da Fontoura; Farnese: caixas montagens objetos (RJ), de Olívio Tavares de Araújo; O fazendeiro do ar (RJ), de David Neves e Fernando Sabino; Fogo Fátuo (SP), de Godoffedo Telles; Pelé: luz, câmera, ação(RJ), de Anselmo Duarte e L. Andreone.

Além de Débora, o cineclube é formado por Karen Barros e João Mors. Além do Recife, o Cachaça esteve em festivais de São Paulo e Berlim. Em agosto, completou oito anos de atividade no Rio de Janeiro e um documentário sobre essa história está sendo rodado.

(Diario de Pernambuco, 17/11/2010)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Janela de Cinema // Três dicas para hoje

Janela de Cinema, Cine São Luiz lotado na noite ontem para sessão de Um punhado de dólares. A programação dos clássicos de Sérgio Leone agradou tanto que no próximo domingo haverá reprise de Três homens em conflito, ponto alto da cultura cinéfila do último fim de semana.

Além da sessão especial da Semana da Crítica de Cannes, com presença do curador Bernard Payen (leia matéria de Carol Santos no Diario de Pernambuco), recomendo a sessão Mostra Competitiva Brasileira 5 - Imagens do Futuro, 17h, no Cinema São Luiz. Conheço três dos cinco filmes do programa:



De volta ao quarto 666 (RS), de Gustavo Spolidoro
Em 1982, durante o Festival de Cannes, Wim Wenders realizou o filme Quarto 666 com depoimentos de Godard, Herzog, Antonioni, Spielberg e Fassbinder sobre o futuro do cinema. Vinte e oito anos depois, quem encara o desafio diante da câmera é o próprio Wenders, que entre outros assuntos, fala sobre as possibilidades de criação digital.



As aventuras de Paulo Bruscky (PE), de Gabriel Mascaro
Selecionado pelo festival É Tudo Verdade 2010, este documentário desafia paradigmas por ser 100% realizado em ambiente virtual. Inicialmente, o diretor faria um filme tradicional sobre a obra de Bruscky. Com a desistência do mesmo, resolveu continuar o trabalho por conta própria recriando o artista e a si mesmo no mundo alternativo do Second Life. Durante o processo, Bruscky voltou ao projeto, fez a narração e deu vida ao próprio personagem.



Haruo Ohara (PR), de Rodrigo Grota
Principal vencedor do último Festival de Gramado, o filme recria o mundo do agricultor, fotógrafo e imigrante japonês que viveu nos anos 1950, cuja produção foi redescoberta na última década. O esforço estético impressiona pelo rigor na construção das imagens, que ficaram próximas às de Haruo e ficcionam como suas fotos foram feitas. E pela estrutura narrativa quase naturalista, que busca reproduzir o espírito dos campos por ele cultivados.

Programação completa de hoje no Janela de Cinema do Recife

Cinema São Luiz

17h - Mostra Competitiva Brasileira 5 - Imagens do Futuro
Pacífico (PE), de Jonathas Andrade
De volta ao quarto 666 (RS), de Gustavo Spolidoro
As aventuras de Paulo Bruscky (PE), de Gabriel Mascaro
Haruo Ohara (PR), de Rodrigo Grota
Viagem a Marte (RJ), de Antonio Castro

19h - Mostra Competitiva Brasileira 3 - Quanto Vale um Rosto
Ensaio de cinema (RJ), de Allan Ribeiro
Cynthia (SP), de Marcelo Toledo e Paolo Gregori
Permanências (MG), de Ricardo Alves Jr.

21h - Mostra Competitiva Internacional 3 - Fazer Backup
Tad's Nest (Inglaterra), de Petra Freeman
Cynthia ainda tem as chaves (Argentina), de Gonzalo Toba
Rench Courvoisier (França), de Valérie Mréjen
Apenas para fins culturais (Inglaterra), de Sarah Wood

Cinema da Fundação

16h45 - Mostra Especial Serguei Loznitsa
18h30 - Mostra Especial Semana da Crítica
21h - Longa-metragem Laura (EUA, RJ, 2010), de Felipe Gamarano Barbosa

sábado, 13 de novembro de 2010

Janela de Cinema // Mais destaques da programação do fim de semana

LONGAS



O mágico (L'Ilusioniste, França/Inglaterra, 2010), de Silvian Chomet

A aguardada nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville realiza nada menos do que um roteiro inédito de Jacques Tati (Meu Tio). Assim como em Belleville, o visual antigo e técnica artesanal evocam nostalgia, desta vez para narrar a história de um artista de variedades que perde espaço para atrações do rock, até que encontra uma fiel admiradora.

Hoje, 16h30 / Cine São Luiz
Segunda, às 17h / Cinema da Fundação



Minha alegria (Schastye moe, Alemanha/Ucrânia/Holanda, 2010), de Serguei Loznitsa

Exibido pela primeira vez na seleção oficial de Cannes, o filme é um retrato da violência histórica na União Soviética e sua consequência em países reestabelecidos após o fim do regime. Através de desoladas paisagens na neve, acompanhamos um caminhoneiro que perdeu a estrada principal, consternado com a condição humana a ponto de esquecer a própria identidade. Oportunidade ímpar de assistir ao filme com a presença do diretor, que veio ao Brasil especialmente para o evento.

Domingo, 19h30 / Cinema da Fundação
Sábado (dia 20), às 19h / Cinema São Luiz

CURTAS



Aeroporto (PE), de Marcelo Pedroso
Janela molhada (PE), de Marcos Enrique Lopes
Sábado, 18h30 / Cinema São Luiz
Domingo, 17h30 / Cinema da Fundação

Ave Maria ou Mãe dos Sertanejos(PE), de Camilo Cavalcante (melhor curta Festival de Brasília - entrevista com diretor
aqui)

Áurea (RJ), de Zeca Ferreira (melhor curta Cine PE)
Domingo, às 19h / Cinema São Luiz
Segunda, às 19h / Cinema da Fundação



Big Bang Big Boom (Italia), de Blu
História de cão (França), de Serge Avédikian (palma de ouro melhor curta no Festival de Cannes)
Sábado, 21h / Cinema da Fundação
Domingo, 16h / Cinema da Fundação

Janela de Cinema traz trilogia do dólar para a tela do São Luiz



A seleção da 3ª Janela Internacional de Cinema do Recife instiga e convida para os que podem ser os melhores filmes do ano. Ou então, pequenas joias a serem descobertas. No entanto, uma das maiores atrações do evento não é deste século. A partir de hoje (sábado), os clássicos Por um punhado de dólares (Per un pugno di dollari), Por uns dólares a mais (Per qualche dollaro in più) e Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo), dirigidos com mão de mestre por Sergio Leone, estão de volta à cidade.

Realizada há quase 50 anos, a cultuada trilogia elevou à categoria de arte o western spaguetti, gênero popularmente conhecido no Brasil como ´bang bang à italiana`. Na época, filmes de baixo orçamento alçaram atores então desconhecidos como Clint Eastwood, Jason Robards, Charles Bronson e Lee Van Cleef ao estrelato e com uma linguagem própria baseada na ação física e muitas vezes bem humorada (como nos filmes de Bud Spencer e Terence Hill), recuperaram a reputação dos faroestes, que estavam em baixa em Hollywood.


Leone e Morricone, duas lendas do cinema

Além da figura lendária de Eastwood, sons de tiros que reverberam muito além do real, imagens envelhecidas em tons sépia e a imbatível trilha sonora de Ennio Morricone são elementos que eternizaram os filmes de Leone na história do cinema mundial. Nada mais simbólico que a primeira exibição seja hoje à noite, no Cine São Luiz, em cópias 35mm. "Temos muita sorte em ter o São Luiz funcionando, o simples fato dele existir nos motiva a levar algo muito bom para o São Luiz, que precisa ser muito valorizado", diz Kleber Mendonça Filho, diretor artístico do Janela Internacional.

Boa parte do orçamento do evento foi investido no aluguel das cópias, que vieram da Austrália. "Pensei que os filmes viriam dos Estados Unidos, já que pertencem aos estúdios da Metro", conta Kleber. A ideia de exibir os filmes de Leone surgiu no fim do ano passado, na reinauguração do São Luiz, quando entre amigos, surgiu a vontade de trazer para o Brasil filmes de pouco acesso. "Eventualmente alguns são lançados, mas centenas ficam de fora".

Serviço
Três Homens em Conflito (1966) Hoje às 20h30
Por um punhado de dólares (1964) Segunda, às 17h
Por uns dólares a mais (1965) Quinta, às 18h30

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Janela para mais de 100 filmes


Além da Estrada, de Charly Braun, abre o Janela do Recife hoje à noite, 20h, no Cine São Luiz

A terceira Janela Internacional de Cinema do Recife começa hoje, com uma mostra dos curtas Masala Mama, de Michael Kam (Singapura), Big bang big boom, de Blu (Itália) e Avós, de Michael Wahrmann (SP) e exibição do longa de ficção Além da estrada, co-produção Brasil / Uruguai dirigida por Charly Braun. Uma das novidades deste ano é que o evento se estende ao Cinema São Luiz, templo do cinema que reflete a natureza do Janela em trazer filmes que dialoguem com a memória, o espaço urbano e temas afins tendo em comum o cunho pessoal, ou seja, a marca de seus autores.

A seleção deste ano aponta para mais de cem obras até o próximo dia 21 (domingo), entre mostras competitivas, retrospectivas e especiais como a do ucraniano Seguei Loznitsa, que estará presente na exibição de Minha alegria (Schastye, 2010), um dos destaques do último Festival de Cannes e da Mostra de São Paulo, assim como é o caso de Cópia fiel (Abbas Kiarostami, prêmio de melhor atriz para Juliette Binoche) e Um homem que grita (Mahamat Saleh Haroun).

De amanhã à segunda-feira, programa imperdível é assistir à Trilogia dos dólares, protagonizada por Clint Eastwood com direção de Sérgio Leone. Também amanhã, o público poderá conferir O mágico, novo trabalho de Silvian Chomet (Bicicletas de Belleville), baseado em roteiro escrito por Jacques Tati em 1956.

Divididos em mostras temáticas, os 69 curtas nacionais e internacionais em competição são tão importantes quanto os longas. Alguns foram exibidos e premiados em grandes festivais como História de cão, de Serge Avendikian (Palma de Ouro em Cannes) e Áurea, de Zeca Ferreira (premiado no Cine PE e no Kinoforum). Ave Maria ou Mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, e Janela molhada, de Marcos Enrique Lopes, representam os pernambucanos.

A presença do Janela no Cine São Luiz é significativa. "É muita sorte ter o São Luiz restaurado e exibindo filmes. Celebremos isso", escreve o diretor artístico Kleber Mendonça Filho, no site do evento.

Nos próximos dias, haverá uma mostra especial de curtas da Semana da Crítica de Cannes, com a presença do curador Bernard Payen, um dos responsáveis pela seleção.

Outro programa especial é a retrospectiva Telephone Colorido, produtora underground que no fim dos anos 90, começo dos 00, chacoalhou a vida cultural da cidade, sendo Resgate cultural seu filme mais emblemático.

Um filme concerto inédito está programado para o dia 19, 21h30, no São Luiz. Baptista virou máquina (PB), com arte de Shiko e a banda Burro Morto, ao vivo.

Pela segunda vez no festival, o Cachaça Cinema Clube do Rio de Janeiro apresenta o programa Galera da Pesada, 17 de novembro, 21h, no Cinema da Fundação. Na pauta estão Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, Rita Lee, Farnese de Andrade, José Mojica Marins, Carlos Drummond de Andrade, Pelé e Maurice Legeard, em seis curtas-metragens das décadas de 70 e 80.

Programação para o Fim de semana - detalhes no site do Janela

Cine São Luiz (Rua da Aurora, Boa Vista)

Hoje
20h, curtas + longa Além da estrada, de Charly Braun

Sábado
16h30, O mágico, de Silvian Chomet
18h30, Mostra Competitiva Brasileira
20h30, Clássicos do Janela: Três homens em conflito, de Sérgio Leone

Domingo
17h, Um homem que grita
19h, Mostra Comp. Brasileira 2
20h45, Mostra Competitiva Internacional 2

Cinema da Fundação

Sábado
14h, Cineclube Dissenso
17h, Um homem que grita
19h, Mostra Competitiva Internacional 2
21h, Mostra Competitiva Internacional 1

Domingo
16h, Mostra Competitiva Internacional 1
17h30, Mostra Competitiva Brasileira 1
19h30, Mostra Especial 4 - Minha alegria, de Serguei Losnitza

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estreia // "Um parto de viagem", de Todd Phillips


Downey-Galifianakis's road trip

Viajar está se tornando algo cada vez mais impessoal. Diariamente, milhares de pessoas se deslocam em aviões de forma automática, sem olhar para quem está ou sentir a distância percorrida. Para nossa própria segurança, basta apertar o cinto e esquecer qualquer oportunidade de mudança que o caminho possa oferecer.

Um parto de viagem (Due date, EUA, 2010), de Todd Phillips, é uma espécie de vingança cômica e anti-utilitarista, que força a inversão dessa lógica que mantém viajantes em bolhas assépticas, alheios em si. A vítima é o arquiteto vivido por Robert Downey Jr., que se desloca de Nova York a Los Angeles para assistir o nascimento do filho. O cavaleiro do apocalipse é o desmiolado pretendente a ator na pele de Zach Galifianakis, determinado a fazer sucesso em Hollywood com seu inseparável cachorro toy.

Apesar de acumular certa experiência no cinema e TV, Galifianakis se tornou conhecido por Se beber não case, um dos maiores sucessos de bilheteria do ano passado e não por acaso dirigido pelo mesmo Phillips. O novo vai pela mesma vibe de humor físico, incorreto e muitas vezes escatológico. É verdade que a versão nacional para o título não ajuda, mas creia, enquanto filme, este consegue ser melhor por evitar os excessos do anterior.

Após confusão no avião, onde se tornaram suspeitos de terrorismo, a dupla de protagonistas é obrigada a cruzar o país por terra. A partir daí, somos transportados para um filme de estrada, onde absurdos se acumulam, inclusive nos corpos dos personagens.

A graça do filme não está exatamente nos personagens, mas no contraste provocado pela convivência involuntária. Downey faz o executivo previsível, enquanto Galifianakis cai como uma luva em qualquer sitcom. Eles se encontram no filme errado e isso mostra o que há de ridículo em cada um.

O longa lembra e muito o clássico de John Hugues, Antes só do que mal acompanhado (Planes, trains and automobiles, 1987). Nele, Steve Martin tenta chegar em casa para o jantar de Ação de Graças, mas John Candy, um vendedor de bugigangas, o coloca numa maratona de acidentes. O "karma" só termina quando Martin, no limite, aceita o novo amigo.

A moral é a mesma para Um parto de viagem, só que atualizada para os novos tempos e com boas participações de Jamie Foxx, RZA e Juliette Lewis como a fornecedora de haxixe já vista em Dias Incríveis e que voltará a aparecer ano que vem, em Se beber não case 2. A trilha é igualmente interessante, com Sam & Dave, Neil Young, Pink Floyd, Cream e outros clássicos do rock 60-70, época em que viajar significava mais do que mero deslocamento geográfico.