terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cineclube Dissenso promove mostra Yasujiro Ozu no Recife



"Se em nosso século algo sagrado ainda existe… e se há algo como o tesouro sagrado do cinema, para mim deve ser o trabalho do diretor japonês Yasujiro Ozu". A colocação foi feita em 1985 pelo cineasta alemão Wim Wenders, no início de seu documentário Tokyo-Ga, em que busca na capital japonesa a cidade que conheceu pelos filmes de Ozu. O diretor de Asas do desejo continua: "japoneses, esses filmes são ao mesmo tempo, universais. Neles, fui capaz de reconhecer famílias de todos os países do mundo, assim como meus pais, meu irmão e eu. Para mim, nunca antes o cinema chegou tão perto de sua essência e finalidade: apresentar a imagem do homem, na qual ele não só se reconheça, mas a partir da qual ele possa aprender sobre si".

O Cineclube Dissenso inicia as atividades de 2012 com uma mostra especial dedicada a Yasujiro Ozu. De hoje a domingo, cinco clássicos do diretor serão exibidos em 16mm, através de parceria entre o cineclube e o escritório consular do Japão no Recife. É uma ótima oportunidade de entrar em contato com as principais obras do autor no local apropriado, a sala de cinema.

Autor do livro O anticinema de Yasujiro Ozu (Cosac & Naify, 2003), Kiju Yoshida diz que o cineasta, que começou no cinema mudo, questionava os artifícios técnicos e atuações exageradas dos atores. Nos primeiros filmes, no entanto, Ozu utilizava movimentos de câmera e outros recursos, sob influência do cinema norte-americano. Com o tempo, passou a filmar os diálogos e situações cotidianas, quase sempre em planos fixos, feitos com câmera colocada no nível de uma pessoa sentada no chão e lentes de 50mm, que não permite capturar a amplitude dos ambientes. Formato cinemascope (tela larga), nem pensar.

Ao apostar na simplicidade de elementos e estranheza provocada pelos planos incomuns, Ozu desmonta a ilusão das imagens em movimento e expõe o processo do fazer cinematográfico. Daí o anticinema. No cemitério em que repousa (ele morreu em 1963, no dia do aniversário de seus 60 anos), em sua lápide está gravada o ideograma “Mu”, que significa “nada” ou “o vazio”. Para quem leu o livro Zen e a arte da manutenção de motocicletas, de Robbert Pirsig, também sabe que Mu significa “refaça a pergunta, se ela não dá conta da resposta”. Por mais que desenvolva artimanhas, a “magia” do cinema jamais alcançará a realidade. Ao admitir isso, Ozu também a desvela.

Serviço
Mostra Yasujiro Ozu
Quando: De hoje a domingo
Onde: Cinema da Fundação (Rua Henrique Dias, 609 – Derby)
Informações: 3073-6767
Entrada Franca

Programação
Hoje, às 16h20: Filho único (Hitori Musuko, 1938)
Amanhã, às 16h20: Pai e filha (Banshun, 1949)
Sexta-feira, às 15h50: Era uma vez em Tóquio (Tôkyô Monogatari, 1953)
Sábado, às 14h: Fim de verão (Kohayagawa-Ke No Aki, 1961)
Domingo, às 14h: A rotina tem seu encanto (Sanma no Aji, 1962)

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