domingo, 22 de janeiro de 2012

Entrevista >> Antônio Leal: "O Brasil tem os festivais mais diversificados do mundo"


Foto: Lizandra Martins

A multiplicação de festivais de cinema é fenômeno recente, que vem desenhando um novo cenário para o escoamento da produção. Somente em 2011, 237 eventos se realizaram no Brasil, de acordo com levantamento do Fórum dos Festivais. No entanto, de acordo com Antônio Leal, vice-presidente da entidade, pela primeira vez em doze anos, o número de festivais diminui: são 24 a menos do que em 2010. Em entrevista ao Diario, concedida durante o Vale Curtas, em Petrolina, disse que a queda não significa crise.

Pelo contrário: novos festivais vêm suprindo demandas específicas, como o FantasPOA e o RioFan, especializados em cinema fantástico. O próprio Leal organiza o CineFoot (RJ), sobre filmes que tratam de futebol. Com a Retrospectiva Kubrick, em novembro passado, o Janela Internacional de Cinema do Recife promoveu o que pode se chamar de experiência cinematográfica completa, muito além do que o circuito comercial pode oferecer. Eventos semelhantes despontam, como a Semana dos Realizadores (RJ) e o Cine Esquema Novo (RS).

No entanto, o atual panorama motivou cinco eventos a sair do Fórum e criar a Frente dos Grandes Festivais, formado pelo Cine PE, Cine Ceará e os festivais do Rio, Gramado e Brasília. Esses e outros assuntos serão tratados hoje, em encontro nacional do F[orum dos Festivais, durante a 15ª Mostra de Tiradentes (MG). Leia mais a seguir.

A queda do número de festivais pode representar uma crise?
Não. O Brasil tem hoje os festivais de cinema mais diversificados do mundo. Apesar do quadro econômico desfavorável, os festivais conseguiram continuar. Os que “sumiram” estavam na primeira ou segunda edição, em fase de se consolidar. É uma flutuação normal.

Em entrevista recente, Alfredo Bertini (diretor do Cine PE) defendeu a diferenciação de festivais como acontece no futebol, em série A e B. Para isso, não deveria haver uma “CBF”?
Não existe série A e série B dos festivais, assim como em qualquer outra atividade da produção audiovisual. Todo festival tem sua grandeza e importância, que não é medida pelo porte econômico. São eventos importantes nas localidades onde atuam, muitas vezes realizados sem recursos. Notamos que festivais assim têm crescido e eles são tão importantes quanto os realizados há décadas ou os de orçamento elevado.

O que muda com a FGF?
Vamos continuar a nossa missão de fortalecer o circuito de festivais e fazer com que este segmento estratégico se torne cada vez mais reconhecido. O que se altera é o caráter amplo e abrangente que demarcou a atuação do forum nos seus doze anos de atuação. A saída deles é legítima, não há dúvida. Assim como dar um foco corporativo e empresarial para suas atividades. O Fórum continua fortalecido, pois atua em nome de todos os festivais, independente do porte. Inclusive aqueles que saíram serão beneficiados com as futuras conquistas do fórum. Mas os beneficios obtidos por eles não estarão ao alcance dos demais.

A criação da FGF coincide com a ascensão de novos festivais. Há uma nova conjuntura?
Há uma nova geração de festivais com preocupação mais estética do que comercial. É um reflexo da produção, pois eles surgem como canal para escoar essa produção. A maioria é de pequeno e médio portes, com orçamentos modestos, e surgem porque não conseguimos ver esses filmes nas salas comerciais. São espaços de legitimação dos investimentos feitos na produção.

Há também uma tendência à segmentação.
Sim, hoje temos festivais de cinema ambiental, de diversidade sexual, universitário, de cinema infantil, de filmes sobre futebol. Eles promovem uma riqueza grande, não demandam orçamentos astronômicos e fazem com que a população tenha contato com outros filmes. Essa é a principal função de um festival, considerando a ausência da salas no interior e o alto valor do ingresso dos cinemas comerciais. Onde vamos assistir a curtas, senão nos festivais?

(Diario de Pernambuco, 23/01/2012)

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