domingo, 22 de janeiro de 2012

Era uma vez um repórter incomum



Criado em 1929 pelo desenhista belga Hergé, Tintim está distante o suficiente para seu topete de passarinho e interjeições retrô voltarem à moda. Devidamente adaptada à gramática cinematográfica, em As aventuras de Tintim, de Steven Spielberg, a série em HQ ganhou mais realismo, mas continua bastante cartunesca, visível nos narizes acentuados dos personagens.

Assim como em Cavalo de guerra, outro filme do diretor, ainda em cartaz no circuito, a atmosfera é a de fantasia nostálgica. É sem dúvida uma aventura spielberguiana de cinco estrelas, com humor ingênuo e sequências de ação espetaculares.

Nesse sentido, a história sobre um tesouro perdido em navio naufragado cai como uma luva. Ele é disputado por um colecionador inescrupuloso e o verdadeiro herdeiro, o Capitão Haddock. Diferentemente dos quadrinhos, ele e Tintim, um jovem e entusiasmado repórter investigativo, não se conhecem e só se tornam amigos durante a aventura.

Outras mudanças foram feitas, como o encadeamento dos fatos e a estranha mudez do cachorro Milú, que de vez em quando falava na trama original, publicada nos livros O segredo do Licorne (1943) e O tesouro de Rackham, o terrível (1944). A opção pela animação 3D, com tecnologia semelhante a usada em Avatar, e a captura de movimento de Senhor dos anéis - o diretor Peter Jackson assina a produção de Tintim - contam a favor.

Além de homenagear o personagem, As aventuras de Tintim é um tributo ao próprio cineasta. Não por acaso, o diretor disse que Tintim é o verdadeiro pai de Indiana Jones. Há também referências a Tubarão. Desde sempre, Spielberg procura nos remeter a uma época menos cínica do que a atual. Tintim talvez seja essa síntese. Só por isso, já valeria a pena assistí-lo.

(Diario de Pernambuco, 20/01/2012)

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